A mudança de segmento entre os anos iniciais e os anos finais do Ensino Fundamental, do 5º para o 6º, opera uma das transições mais complexas da Educação Básica. É nessa transição que ocorre, para a maior parte dos(as) estudantes, o término da infância e o início da adolescência; é nesse momento em que um número elevado de crianças/adolescentes enfrentam os desafios da puberdade; é também o tempo marcado por um misto de desejo e medo das mudanças e novidades, acompanhados pela insatisfação de se transformar, de um ano para o outro, dos maiores para os menores, dos mais experientes para os mais “ingênuos”.
Na escola, em geral, esses(as) estudantes transitam também de uma organização polivalente, com um(a) um(a) ou dois (duas) professores(as) que lecionam a maior parte das disciplinas escolares, assumindo ou dividindo entre si a gestão mais geral da turma; para uma outra que divide as áreas do conhecimento em muitas disciplinas, cada uma ministrada por um(a) professor(a) diferente. Nessa estrutura disciplinar, mais comumente, é esperado que as crianças ou adolescentes do 6º ano assumam a organização de suas tarefas com autonomia: os registros na agenda e no caderno, as datas de provas e entregas de trabalhos, a localização de horários de aulas e trocas de salas, a solução de seus conflitos de forma rápida e eficaz, entre outras demandas. No entanto, ainda pela organização disciplinar, nas escolas onde não existe uma figura que centralize a orientação das rotinas dos(as) estudantes, é comum que eles(as) se percam nos relacionamentos entre colegas e nas diferentes formas de sistematização em cada disciplina, deixando por vezes a impressão de que “não têm maturidade”, “são infantis” ou “são desorganizados(as)” e, nas piores situações, não são capazes de gerir suas relações, tarefas e prazos, perdendo oportunidades de apresentar suas dúvidas nas atividades ou aperfeiçoar suas produções, o que acarreta em dificuldades de aprendizagem e mau desempenho nas tarefas avaliativas.
A transição do 5º para o 6º ano é uma ruptura importante que acompanha também a formação dos(as) professores(as). Nos cursos de pedagogia, em geral, os(as) professores(as) têm muitas horas de estudos dedicados aos processos de ensino e aprendizagem, à avaliação, ao conhecimento do desenvolvimento infantil; e tempos curtos dedicados à reflexão sobre os conteúdos escolares que irão ensinar. Por outro lado, professores(as) formados nas demais licenciaturas, estudam majoritariamente sobre os conteúdos de suas disciplinas e têm um tempo reduzido formação sobre questões ligadas ao ensino e aprendizagem de forma mais geral, e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Consequência ou não desses fatos, o que vemos em muitas escolas são alunos(as) e professores(as) que relatam dificuldades com o 6º ano. Dúvidas sobre o que fazer e como fazer e, em não poucas situações, dificuldades para encontrar quem são as professoras e professores que estão no 6º ano porque escolheram estar ali.
Diante de tantas questões que se colocam para o trabalho dos(as) professores(as) no 6º ano, entendemos a importância de compartilhar, pela sua própria voz, experiências que nos ajudem a pensar a transição do 5º para o 6º ano, tanto do ponto de vista das aprendizagens dos conteúdos escolares, quanto das rotinas e procedimentos que favoreçam a ampliação da autonomia dos(as) estudantes, de forma gradual e sem tantas rupturas.
A proposta desse “espaço/sessão/grupo de trabalho” é ampliar a reflexão acerca dos processos de transição do 5º para o 6º ano, por meio da partilha de experiências que foram capazes de amenizar as rupturas, tornando o processo de adaptação ao 6º ano mais natural para os(as) estudantes, professores(as), famílias e profissionais da escola em geral. Experiências que, com foco nos conteúdos de matemática, nos procedimentos e rotinas de estudos ou nas relações entre alunos(as), alunos(as) e professores(as), alunos(as) e tempo e espaço escolar, conseguiram superar as dificuldades encontradas no processo de transição e redundaram em aprendizagens para toda a comunidade do 6º ano.
Algumas questões norteadoras
- Como acolher as expectativas, dúvidas, medos e ansiedades dos estudantes e de suas famílias no 6º ano?
- Sobre quais conceitos e procedimentos deve se assentar a avaliação diagnóstica dos conhecimentos dos alunos?
- Como valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes e estimulá-los a aprofundar seus saberes por meio de novas aprendizagens?
- Como organizar os espaços e tempos no 6º ano para que os alunos reconheçam a transição como continuidade e não como ruptura?
- Que rotinas são importantes para fortalecer os processos de construção de autonomia dos estudantes?