Refletir acerca da implementação de propostas curriculares é sempre complexo e gera controvérsias, pois implica em fazer escolhas, tomar decisões que nem sempre contemplam todas as expectativas nem agradam todos os pontos de vista, sobretudo daqueles que serão os principais usuários de tais documentos norteadores: os professores da educação básica.
A passagem dos anos iniciais para os anos finais do Ensino Fundamental envolve uma mudança substancial no desenvolvimento da formação matemática dos estudantes. O objetivo é comum: conduzir os estudantes na aprendizagem da matemática. A BNCC atravessa esse processo com a proposta de uma matriz curricular que lista objetos de conhecimento e uma relação sequencial de habilidades a serem desenvolvidas durante essa etapa da educação escolar. O binômio “ensinar e aprender” não cabe em uma lista! Mas ter uma orientação pode ser positivo para fundamentar propostas, favorecer a equidade, conferir unidade e, especialmente, promover a reflexão sobre o tema.
Em se tratando da área de Matemática, há alguns questionamentos que norteiam e provocam reflexões acerca do Currículo: Quais seriam as ideias fundamentais que permeiam todos os campos da Matemática e suas interconexões? Além disso, como é tratada a questão do pré-requisito entre etapas do ensino (do anos iniciais para os anos finais do Ensino Fundamental, por exemplo) em termos de conteúdos e habilidades? Quais os objetos de conhecimento, os conceitos que poderiam ser “mais ou menos priorizados” (ênfase dada)? Como trabalhar com um currículo cuja abordagem é espiralada, em que os conceitos são revisitados, ampliados, aprofundados em um nível de complexidade cada vez maior? De que forma abordar os temas integradores e transversais considerados contemporâneos e contextualizadores das práticas sociais no campo do ensino da Matemática?
É importante discutir também sobre quais os objetos de conhecimento e habilidades essenciais ou elementares que devem ser priorizados em propostas curriculares, a exemplo da BNCC. Qual deve ser a ênfase dada a cada uma das unidades temáticas como Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas, Estatística e Probabilidade e Números? Como trabalhar as unidades temáticas de maneira articulada, integrada (e não estanque, fragmentada), entre outros aspectos?
Os currículos derivados da BNCC têm apresentado variações muito positivas (por exemplo, adaptá-la para a organização em ciclos, como o do Pará, que permite não vincular uma habilidade ao período de um ano escolar), mas também outras preocupantes (por exemplo, currículos com uma quantidade exagerada de habilidades, como o do Estado do Rio Grande do Sul, que praticamente dobra o conjunto de habilidades dessa etapa da escolaridade). Dentre muitas críticas importantes, o documento tem sido reconhecido por ser excessivamente amplo, deixando pouco para adaptações e adequações locais. É (ainda) urgente fomentar a discussão sobre a proposta da BNCC visando às melhores interpretações e, especialmente, à formação docente para o exercício crítico do documento.
Não se discute a pertinência de as primeiras habilidades listadas na BNCC – Ensino Fundamental serem relativas ao letramento numérico, visando à contagem e à representação dos números naturais. O mesmo vale para os primeiros passos em geometria, em estatística e probabilidade ou em álgebra. Também não se discute que seja esperado que os estudantes cheguem ao 6º ano do Ensino Fundamental conhecendo amplamente o sistema de numeração decimal e habilitados a realizar as operações de adição e de subtração. No entanto, há pontos controversos que merecem ser avaliados de maneira coletiva. Em particular, esses pontos precisam ser discutidos visando a superar rupturas na transição dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental. Envolvendo todas e todos os docentes que ensinam matemática nessa etapa da escolaridade. São, certamente, também exemplos de temas que oferecem desafios na passagem do ensino fundamental a operação de divisão, as frações, a noção de volume.
Espera-se que a mesa, à luz da BNCC, discuta criticamente a abordagem de conceitos que são cruciais no processo de transição dos anos iniciais para os anos finais do Ensino Fundamental.
Algumas questões norteadoras
- O que e como fazer para realizar as necessárias adaptações e articulações, tanto no 5º quanto no 6º ano, para apoiar os estudantes nesse processo de transição, a fim de evitar ruptura no processo de aprendizagem, garantindo-lhes maiores condições de sucesso?
- À luz do Currículo, quais os principais enfoques e desafios sobre o ensino de matemática na atualidade, considerando a transição dos anos iniciais para os anos finais?
- Do ponto de vista conceitual, que tópicos da BNCC precisam ser revisados de modo a promover uma transição contínua, coesa? Por quê?
- Quais tópicos conceituais oferecem maior desafio para a progressão da formação matemática? Por quê?
- “Menos pode ser mais”. O que pode ser suprimido da BNCC anos iniciais para oferecer oportunidade de aprofundar a abordagem de outros temas? E que temas seriam esses que merecem maior atenção?