Entrevista com o professor Rubens Lopes Netto, medalhista de ouro na primeira edição da OPMbr

Rubens Lopes Netto
Anapurus-MA
Professor das redes municipal e estadual
  1. Conte um pouco sobre sua formação, trajetória acadêmica e atuação no Ensino de Matemática.

No Ensino Médio cursei o Magistério, mesmo sem ter interesse em ser professor, na época foi por falta de opção. Daí me descobri professor e fui só me especializando na área e assim continuo. Sou graduado em Matemática pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI (2006), especialista em Matemática pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2009), especialista em Gestão e Ensino de Tecnologias da Informação, Comunicação e Inovação pela Faculdade de Tecnologia IBTA (2010), mestre em Matemática pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA (2017) e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Ingressei na carreira de professor no ano de 2002, aos 18 anos, sem querer, por meio de um concurso para professor de 5ª a 8ª série em que minha mão me inscreveu pra fazer, do município de Anapurus, vizinho ao município de Mata Roma, onde residia na época. Eu tinha acabado de concluir o Magistério, no final de 2001. Lembro como se fosse hoje quando, ao ser informado que ela iria fazer minha inscrição, eu a pedi que fizesse para o local que tivesse mais vagas e menos concorrência, pois eu não iria estudar para esse concurso. Acabei inscrito e depois aprovado para o Grupo Escolar Vicentina V. dos Santo, no povoado Bebedouro, um dos mais distantes da sede do município, onde ainda não havia energia elétrica nem serviço de abastecimento de água. Passei três anos trabalhando lá e vive diversas experiências atuando na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos.

Em 2003 fui aprovado em um seletivo para uma única vaga no povoado em que trabalhava, no Programa Vamos Ler, programa lançado pelo governo do Estado do Maranhão para a Educação de Jovens e Adultos e atuei no programa durante o ano. Ainda em 2003 fui aprovado no vestibular e ingressei na graduação. Em 2005 fui transferido para a Escola Nadir Monteles, na sede do município, para lecionar no Magistério, e fui aprovado no meu segundo concurso de professor de 5ª a 8ª série, desta vez para a sede do município de Mata Roma, ingressando na rede em 2006, no Colégio João Bernardo Neto. Ainda em 2005 fiz um concurso para professor do Ensino Médio da rede estadual do Maranhão, pro município de Chapadinha, pois era o local mais próximo onde havia vagas, na intenção de ficar na suplência, pois só estava com 50% da graduação concluída e era pré-requisito para investidura no cargo, o que acabou dando certo, pois fui convocado em 2008. Em 2008 saí da rede municipal de Anapurus e em 2009 passei no meu segundo concurso pra professor do Ensino Médio do Estado, dessa vez para o município de Anapurus, ingressando em 2010. Em 2008 e 2009, enquanto cursava a especialização em Matemática pela UFSC, atuei como tutor do curso de graduação em Matemática ofertado também pela UFSC. Ainda em 2009, atuei como professor do curso Vestibular da Cidadania para Inclusão Social, da extinta Universidade Virtual do Maranhão – UNIVIMA. Em 2011 consegui minha remoção da primeira matrícula do Estado de Chapadinha para Anapurus e continuei atuando lá, no C. E. Deputado Júlio Pires Monteles atuando e no município de Mata Roma no Colégio Marcelino Monteles até o mês de julho deste ano, quando entrei de licença para cursar o doutorado.

Então, já se foram quase 23 anos de atuação como professor, tendo a oportunidade poder ter atuado em diferentes modalidades e níveis de ensino.

2. Por que fazer a OPMBr? Como foi participar da seleção e ser medalhista?

Participar da OPMbr foi a realização de um sonho antigo que tenho desde a primeira edição da OBMEP, em 2005, quando eu já era professor e, portanto, não tive a oportunidade de participar desta importante competição dessa disciplina que tanto amo. Sempre levei a OBMEP e o ambiente olímpico pra minha sala de aula, desde a primeira edição, mas só podia me realizar através das conquistas dos meus alunos. A OPMbr foi a oportunidade que eu tanto esperei para buscar a realização por mim mesmo.

Participar da seleção foi um grande desafio, mas confesso que não tinha muitas expectativas com relação ao resultado. Eu até tentava me imaginar conquistando um bronze, mas como costumo dizer, nem em meus melhores e maiores sonhos eu sequer ousaria ter sonhado em ser um medalhista de ouro. Eu relutei em acreditar, mesmo com o anúncio na live da premiação. A ficha não queria cair. Foi um incrível misto de sensações (felicidade, alívio, satisfação, gratidão e euforia).

3. Como foi o intercâmbio em Shanghai na China? Conte sobre a experiência das visitas nas empresas, escolas, universidades e outros lugares que gostaria de destacar.

O intercâmbio foi a realização de um outro sonho inimaginável, para mim. Viajar para outro país, vivenciar um pouco de uma cultura totalmente distinta da nossa e poder ver como a Educação funciona por lá e o que podemos aplicar aqui para melhorar a nossa foi uma experiência incrível. A visita às empresas nos serviu para conhecermos um pouco das novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas como potenciais recursos para a Educação e qualidade de vida.

Visitar as escolas e universidades foi superimportante para traçarmos um paralelo com nossas escolas e universidades e podermos trazer o que podemos implementar, dentro de nossa realidade. Também tivemos a oportunidade de conhecer pontos turísticos, centros comerciais e culturais, o que tornou a viagem ainda mais magnífica. Não poderia deixar de mencionar o bônus de podermos passear e conhecer alguns pontos turísticos de Paris, na escala do voo de ida. E ainda tivemos uma experiência emocionante de estarmos em meio a um tufão de uma magnitude que não acontecia em Xangai havia 75 anos. Aprender a utilizar o metrô de Xangai também foi um bom desafio.

4. O que achou da experiência do Teaching Research Group? Na sua opinião, daria para implementar nas escolas do Brasil?

O Teaching Research Group é uma excelente forma de trabalho e muito do que vimos por lá pode ser implementado aqui no Brasil. É fato que há pontos que exigiriam um alto investimento em estrutura e outros que demandam uma drástica mudança cultural, então, esses pontos não são possíveis de serem implementados aqui, mas há outros que dependem apenas de força de vontade e mudança e flexibilidade para podermos integrá-los à nossa prática.

Alguns exigem um certo investimento, mas dentro do alcance e outros demandariam mudanças possíveis na formação dos professores, o que levaria algum tempo, mas também são totalmente plausíveis.

5. O que você destacaria sobre o Ensino de Matemática na China? Na sua opinião, depois de alguns anos, o que fez a China obter ótimos resultados em avaliações, como por exemplo no PISA?

A primeira grande diferença é cultural. A Educação é realmente encarada como prioridade pelas famílias, o que faz com que os filhos sejam conscientizados da importância de receberem uma boa Educação, fazendo com que sejam estudantes comprometidos, respeitosos e responsáveis. O fato de, devido à grande demanda, o Ensino Médio não ser ofertado a todos e seu ingresso ser por meio de exame seletivo feito em uma única oportunidade, sem segunda chance, sendo que apenas 50% dos alunos do Ensino Fundamental conseguem o ingresso, faz com que não haja reprovação durante o Ensino Fundamental. Os alunos são submetidos a avaliações periódicas ao longo dos anos letivos, mas não em caráter aprovativo/reprovativo. O aluno realmente se dedica a aprender pois sabe que ao final do Ensino Fundamental só terá uma chance de seguir para o Ensino Médio.

Cada professor só leciona em duas turmas de mesma série/ano, uma aula por dia, de segunda a sexta e o restante do tempo ele planeja suas aulas, corrige tarefas, elabora tarefas e avaliações, participa de reuniões e atende alunos com maior dificuldade. Os livros didáticos são produzidos pelos seus melhores professores e não são comercializados, inclusive, os autores não recebem pagamento.

Os professores que estão ingressando no magistério são tutorados por professores mais experientes durante o período de um a três anos. Todas as escolas são de tempo integral e com excelente estrutura.

Os melhores professores gravam videoaulas que ficam em uma plataforma para auxiliar alunos que faltaram às aulas ou para auxiliar professores que estejam com dificuldade para ministrar aquele conteúdo. Os alunos não podem portar celular na escola.

6. Do aprendizado e modelo de ensino de Matemática na China, o que gostaria de levar ou já levou para a sua sala de aula?

O método “step by step” (passo a passo); o estabelecimento de objetivos em quantidade níveis possíveis de serem alcançados em cada aula; aulas estruturadas em tarefas gradativas (tasks); planejamento coletivo; aulas públicas; reuniões semanais (aqui poderiam ser quinzenais, por exemplo) para discutir dificuldades de aprendizagens das turmas ou de abordagens das aulas; atendimento individual dos alunos com maior dificuldade.

7. Fale um pouco dos Workshops sobre o intercâmbio na China que estão planejando. Como e quando será?

Os workshops ainda estão em fase de elaboração e planejamento, mas a ideia é de possibilitar vários formatos de apresentação (palestras, minicursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros), com o intuito de disseminar em nossos Estados e nos demais que se interessarem o que foi apreendido da Educação de lá que está rendendo bons frutos e pode ser replicado ou adaptado aqui no Brasil. A previsão é que aconteçam em janeiro e/ou fevereiro do próximo ano.

8. Após a participação no intercâmbio, sua vida profissional mudou?

Com toda a certeza. Tenho tido mais reconhecimento do meu trabalho e algumas oportunidades de participar e de contribuir em alguns espaços e eventos, de natureza acadêmica ou profissional, que visam promover uma reformulação de Educação Matemática, o que tem sido extremamente enriquecedor por toda a troca de conhecimentos e experiências vivenciada.

9. Que conselhos você daria para os professores que desejam participar da próxima edição da OPMBr?

Buscar não ser apenas um professor que gera bons resultados para a escola, mas ser um professor que faz a diferença e impacta seus alunos, e mostre para os alunos o prazer que ele tem em lecionar Matemática, para que os alunos possam ser contagiados e desenvolver o prazer por aprender.

10. Gostaria de complementar mais algum detalhe?

    Esta foi a primeira edição da OPMbr e sei que ela mudou a vida de muitos dos professores que participaram dela, então, que nas próximas edições nós tenhamos milhares de professores pelo país entusiasmados para participar, pois tenho certeza de que nós somos apenas o início de uma revolução no ensino da Matemática em nosso país.

    Nota de pesar: Jacob Palis

    É com profundo pesar que a Associação Nacional de Professores de Matemática na Educação Básica (ANPMat) lamenta o falecimento do professor Jacob Palis, ocorrido nesta quarta-feira, 7 de maio de 2025, no Rio de Janeiro, aos 85 anos.


    A ANPMat expressa sua solidariedade à família, aos amigos, aos colegas e a toda comunidade científica. A trajetória de Jacob Palis seguirá presente em cada estudante que se encanta com a matemática e em cada educador comprometido com uma ciência acessível.

    Diretoria da ANPMat

    Entrevista com Silmara Louise da Silva, medalhista de ouro na primeira edição da OPMbr

    Silmara Louise da Silva
    Poços de Caldas – MG
    Professora das redes municipal e estadual

    1. Conte um pouco sobre sua formação, trajetória acadêmica e atuação no Ensino de Matemática.

    Desde criança, meus pais me incentivaram a brincar com jogos e atividades que envolviam lógica e matemática. Essa curiosidade foi crescendo comigo e, quando chegou a hora de escolher uma carreira, já sabia que queria seguir esse caminho. Escolhi a licenciatura em Matemática, tanto pela afinidade quanto pela acessibilidade, e minha primeira experiência foi no ensino de jovens e adultos, algo que transformou profundamente minha visão de ensino. Ali, com alunos de diferentes idades e vivências, aprendi o valor da empatia e da paciência. Vi como é essencial acolher as dificuldades dos estudantes e oferecer um ambiente onde eles se sentem à vontade para errar e aprender. Durante 14 anos de docência, sempre tento criar esse espaço seguro para meus alunos, onde eles podem fazer perguntas sem medo de julgamento. Sinto que essa abertura e confiança são o que torna nosso aprendizado mais verdadeiro e significativo.

    2. Por que fazer a OPMBr? Como foi participar da seleção e ser medalhista?

    “Quando meu orientador me falou da OPMBr, fui com o coração aberto, mas sem grandes expectativas. Não achava que fosse chegar tão longe, muito menos ser medalhista. As etapas de seleção foram, para mim, acontecendo de maneira natural: na primeira fase, respondi uma prova onde pude mostrar meus conhecimentos e prática pedagógica; na segunda, gravei um vídeo com depoimentos de alunos e colegas sobre o impacto do meu trabalho, algo que me emocionou profundamente. Na última fase, pude compartilhar minha paixão pelo ensino e pela matemática em uma entrevista que coroou todo esse processo. Esse reconhecimento foi uma surpresa linda e me fez ver que a dedicação de todos os dias realmente faz diferença.”

    3. Como foi o intercâmbio em Shanghai na China? Conte sobre a experiência das visitas nas empresas, escolas, universidades e outros lugares que gostaria de destacar.

    “Shanghai foi uma experiência transformadora em vários sentidos. Quando vi como é o ingresso dos alunos no ensino médio na China, fiquei surpresa e um pouco chocada: apenas metade dos jovens tem a chance de seguir para o ensino médio regular. Isso os motiva a estudar intensamente desde cedo, o que acaba moldando toda a dinâmica educacional. Também fiquei impressionada com o tempo e o cuidado que os professores têm para planejar suas aulas e dar feedback aos alunos. Diferente de nós, eles conseguem se concentrar em menos turmas e têm o apoio de uma estrutura que realmente valoriza o tempo de planejamento. Isso me inspirou muito a repensar a organização do meu próprio trabalho e a valorizar ainda mais cada momento de preparação.”

    4. O que achou da experiência do Teaching Research Group? Na sua opinião, daria para implementar nas escolas do Brasil?

    “A experiência do Teaching Research Group foi reveladora e muito enriquecedora. Ver os professores se reunindo para discutir práticas, trocar ideias e aprimorar seus métodos me fez sonhar em ver algo parecido no Brasil. Sei que temos muitos desafios, como a alta carga horária dos professores e as jornadas duplas ou até triplas de trabalho, mas acredito que, com esforço, algumas escolas poderiam encontrar formas de viabilizar esse tipo de encontro. Seria incrível ver mais espaços onde os professores pudessem se apoiar e evoluir juntos.”

    5. O que você destacaria sobre o Ensino de Matemática na China? Na sua opinião, depois de alguns anos, o que fez a China obter ótimos resultados em avaliações, como por exemplo no PISA?

    “Na China, tudo parece planejado e estruturado de uma forma que realmente coloca a educação no centro. Os investimentos no desenvolvimento dos professores e a maneira como as políticas públicas incentivam a formação constante criam um ambiente onde o ensino de Matemática é levado muito a sério. É uma dedicação que transparece nos resultados, e acredito que esse comprometimento é o que faz a diferença nos números do PISA.”

    6. Do aprendizado e modelo de ensino de Matemática na China, o que gostaria de levar ou já levou para a sua sala de aula?

    “Voltei da China com uma vontade imensa de aprofundar cada conceito em vez de cobrir muitos tópicos de forma rápida. Esse foco no detalhe e na profundidade é algo que já comecei a implementar, tentando fazer com que cada tema ganhe um significado mais profundo para os alunos. Passei também a usar tarefas semanais, com feedback rápido, para que os estudantes vejam seu progresso e se sintam mais engajados. É gratificante ver como eles estão se dedicando mais, sabendo que vamos discutir os resultados juntos na semana seguinte.”

    7. Fale um pouco dos Workshops sobre o intercâmbio na China que estão planejando. Como e quando será?

    “Os workshops são uma oportunidade incrível para compartilhar o que aprendi e, ao lado de outros professores brasileiros, adaptar o que vimos na China para a nossa realidade. Nossa ideia é começar com encontros em nível local, por causa das nossas próprias cargas horárias, mas queremos expandir para diferentes formatos que possam atender escolas em qualquer lugar. Acredito que essa troca de experiências pode ser transformadora para todos nós e, no futuro, espero que esses encontros sejam sistematizados e se tornem momentos de muita aprendizagem e inovação.”

    8. Após a participação no intercâmbio, sua vida profissional mudou?

    “Com certeza. Sinto uma responsabilidade ainda maior com o aprendizado dos meus alunos e com o impacto que quero causar na educação. Além disso, venho participando de eventos educacionais que estão ampliando minha visão sobre a docência e me conectando a profissionais de destaque no cenário educacional brasileiro. Sinto que estou crescendo como educadora e como pessoa, e essa é uma mudança que levo comigo para a vida.”

    9. Que conselhos você daria para os professores que desejam participar da próxima edição da OPMBr?

    “Se você tem vontade de participar da OPMBr, vá com tudo! Acredite no valor do seu trabalho e no impacto que ele tem na vida dos seus alunos. Muitas vezes, nos sentimos isolados, achando que nosso esforço é pequeno, mas a verdade é que fazemos a diferença todos os dias. A OPMBr é uma chance de mostrar o que fazemos de melhor e de nos conectarmos com colegas incríveis que compartilham dessa mesma paixão.”

    10. Gostaria de complementar mais algum detalhe?

    “Gostaria apenas de reforçar o quanto essas experiências têm me feito crescer. Tanto a OPMBr quanto o intercâmbio em Shanghai me abriram os olhos para o potencial da colaboração entre educadores. Acho que estamos sempre aprendendo, e quanto mais dividimos nossas ideias e práticas, mais impacto conseguimos gerar na educação.”