Entrevista com a Secretária Regional do Centro-Oeste Professora Maria Botelho

1- Fale um pouco sobre sua formação, trajetória e atuação no Ensino de Matemática.
Eu tenho Graduação, Especialização e Mestrado (PROFMAT) em Matemática. Sou professora efetiva da rede estadual de Minas Gerais. Iniciei a minha carreira docente em 1981 ministrando aulas para uma turma multisseriada em uma escola da zona rural e já trabalhei com todas as séries da educação básica, mas nos últimos anos só atuo no Ensino médio.

2- Como você vê a importância da atuação da ANPMat no atual cenário?
Eu acompanho a atuação da ANPMat desde a sua criação e participei de todos os Simpósios de Formação dos Professores de Matemática realizados pela associação desde 2015, sendo que em alguns deles também ministrei palestras e/ou minicursos, com apoio da OBMEP.
Sou testemunha de que a diretoria anterior e atual da ANPMat, juntamente com seus colaboradores não medem esforços no sentido de contribuir com a formação continuada de professores de Matemática da educação básica. Além disso, ela tem disseminado cada vez mais novas ideias, promovido troca de conhecimento metodológico e tecnológico e; também experiências profissionais através da apresentação de trabalhos, realização de minicursos, apresentações de palestras durante a realização de Simpósios regionais e nacional, além de Lives e publicações mensais.
Vale ressaltar que a maioria dos participantes dos eventos promovidos pela associação criam laços e compartilham suas experiências, vivências e conhecimento, durante e após os eventos. Isso evidencia a importância da ANPMat, que cada vez mais promove a disseminação de boas práticas, a socialização do conhecimento e dos docentes de todas as regiões do país.

3- Na sua opinião, o que podemos fazer para melhorar o ensino de Matemática na Educação básica do Brasil?
Na minha opinião nós: professores, pais, estudantes, sociedade e dirigentes temos que repensar o nosso compromisso com a educação como um todo. Precisamos de um planejamento de longo prazo resultante de ampla discussão, com investimento necessário e que não seja engavetado com a troca de governantes.
O conhecimento, que na maioria das vezes os docentes adquiriram por conta própria, assim como as experiências exitosas devem ser reconhecidos e compartilhados, como por exemplo através das ações da ANPMat.
Eu participei da OBMEP desde a sua criação em 2005, atuando na E.E Messias Pedreiro em Uberlândia-MG, uma escola que coleciona histórias de lutas, de superação e de conquistas em todas as edições. Somamos 653 premiações de 2005 a 2019, entre medalhas e menções honrosas; e, eu particularmente fui premiada em todas as edições que participei. Todos os anos nosso maior desafio era envolver todos os alunos e tornar a OBMEP inclusiva e não discriminatória.
Desde 2012, nossos estudantes também participam de um projeto que oferece aulas de programação e preparação para a Olimpíada de Informática e outras competições. Os participantes, assim como acontecia durante a preparação para a OBMEP, atuam também como é multiplicadores, visando oportunizar um maior número de jovens atendidos pelo projeto. Posteriormente, esse projeto foi adaptado e estendido para outras escolas e cidades da região.
As premiações na OBMEP e a participação nesse projeto de programação, premiados ou não, contribuíram para que os nossos jovens conseguissem bolsas de estudo, estágios e empregos bem remunerados no Brasil e no exterior; como no google, facebook e outras grandes grupos empresariais.
Diante desses fatos, uma sugestão é que seja oferecido a todas as escolas da educação básica, oportunidade de ofertar aulas de programação básica e de programação quântica e que os professores sejam preparados para ministrar tais aulas.


4- Como foi a sua experiência com o PROFMAT? O que mudou na sua vida com o PROFMAT?
Iniciei o PROFMAT em um momento que estava me preparando para aposentar e eu diria que usei o PROFMAT e a bolsa que recebi como desculpa para continuar atuando na rede pública estadual. Cheguei a pedir e posteriormente revogar o afastamento preliminar para a aposentadoria, pois considero a sala de aula (presencial e/ou online) um ambiente desafiador e inspirador.
Assim como a graduação e a especialização, o PROFMAT deixou lacunas que não foram preenchidas, mas foi sem dúvida uma experiência muito enriquecedora.

5- Como está sendo a sua experiência com as aulas e atividades on-line?
O volume de trabalho aumentou bastante, mas me sinto razoavelmente adaptada às ferramentas tecnológicas de ensino; e, tal fato em grande parte é devido a muito estudo, à cooperação dos colegas professores e à minha experiência com projetos de resolução de problemas e olimpíadas, que mesclava atividades online, presenciais e o uso de redes sociais; visando à mudança cultural necessária para que o estudante deixe de ter preconceitos com relação à Matemática e aprenda a aprender não só Matemática.
Conviver, mesmo que virtualmente com os estudantes, acompanhá-los pelo WhatsApp, na plataforma Classroom (conexão escola), nas aulas pelo Google Meet; analisar as respostas das suas auto-avaliações e conhecer as dificuldades relatadas por eles em relação a rotina, desmotivação e aspectos emocionais, provocou em mim muitas reflexões e a confirmação de que nada foi fácil para ninguém, principalmente para quem não tinha conectividade ilimitada e se tem é por meio de um celular que muitas vezes é compartilhado; e, também deixou lacunas que devem ser preenchidas e dificuldades que devem ser sanadas.
Por outro lado, tudo que experenciei e/ou observei imprime em mim coragem para seguir em frente e motivação para descobrir novas formas de ensinar e aprender.
Sei que temos muito o que melhorar, mas fizemos o melhor que podíamos nas condições que nos foram dadas.
Sei que a busca ativa e o apoio aos estudantes que atrasam a entrega das atividades por vários motivos é uma luta diária, mas fica a certeza de que novas metodologias, novas tecnologias são importantes; mas nada substitui as interações presenciais aluno-aluno e aluno-professor.